ATENÇÃO: CASO VOCÊ SEJA SENSÍVEL A TEMAS QUE ENVOLVAM VIOLÊNCIA, ESSA HISTÓRIA CONTÉM GATILHOS
Todos os nomes foram trocados para que a identidade da vítima seja mantida em sigilo
POR DANIELA TEIXEIRA
“Tiraram minha calcinha, me abriram bem e ficaram me tocando, massageando e se revezando para olhar minha vagina”
Foi assim que Catarina teve a sua inocência destruída por um tio e dois de seus amigos quando tinha apenas 3 anos de idade.
Naquele dia, a garotinha brincava na casa de sua avó, quando foi chamada pelo tio, irmão caçula de seu pai, para ir até uma escada, em um canto isolado da residência, onde os outros dois rapazes já a esperavam.
“Na hora, eu não entendi o que estava acontecendo. Porque você é uma criança, né? […] Eu fiquei toda confusa, com muita vergonha. Não sabia o que fazer”, lembra.
À mercê dos abusadores, todos em torno de 16 a 18 anos, Catarina foi salva pela avó que, sem saber o que se passava, chamou o tio da menina e acabou assustando o trio que tanto mal fazia à sua neta.
“Bota a sua roupa, bota a calcinha”, pediu o irmão de seu pai, em tom de urgência, com medo de ser pego em flagrante.
Assustada com o que passou, Catarina não soube como reagir. Contudo, embora fosse muito pequena, ela sentiu que o que havia ocorrido devia ser mantido em sigilo.
“Eu nunca comentei com a minha mãe porque eu acho que fiquei com vergonha, muita vergonha”, lamenta.
Novo trauma
A menina só conseguiu abriu o coração para a mãe cerca de uma década depois, quando, infelizmente, foi alvo de outro abusador.
“Eu tinha uns 13 anos, eu estava na rua e fui atacada. Essa pessoa me agarrou […] e começou a me tocar em todos os lugares, mas aí, graças a Deus, estavam vindo alguns vizinhos.[…] Ele só me soltou porque estavam vindo esses conhecidos e ele saiu correndo”, relata.
E opina: “Eu acho que ele ia me estupr@r, para ser bem sincera”.
Bastante assustada, Catarina, então, buscou consolo na mãe e revelou o segredo que carregava há anos. “Por causa disso, eu contei para a minha mãe. Eu fiquei totalmente assustada e chorando. E aí eu contei para ela que eu tinha essa lembrança, que eu lembrava do meu tio, junto com os amigos dele, me tocando nas minhas partes íntimas.”
A mãe, por sua vez, ficou indignada. Isso porque, também tendo sido vítima de abuso na infância, ela sempre fez de tudo para proteger a filha.
“Minha mãe era super cuidadosa com essa questão. Ela não deixava eu dormir na casa de desconhecidos, coisas assim, porque ela tinha esse medo, porque também aconteceu com ela”, diz.
Já com o pai, irmão do abusador, Catarina nunca conseguiu compartilhar a história. “Não contei para o meu pai porque eu tive vergonha.”
Consequências do abuso
A violência sofrida trouxe muita revolta para ela. “Fiquei com muita raiva por anos. Eu tenho muita raiva até hoje.”
Sendo vizinha do tio-monstro, Catarina precisou conviver com ele por muito tempo. Porém, atualmente, para seu alívio, ela mora bem distante do criminoso.
Apesar de tudo, a jovem quer deixar para trás os sentimentos ruins e se libertar. “Quero perdoar, porque isso faz bem para mim.”
Questionada se o que aconteceu no passado atrapalha de alguma forma a sua vida no presente, ela confessa: “Influencia bastante. […] Quem disser que não influencia, eu acho difícil. Porque mexe, sim, com vários pontos. Até da autoestima”.
No entanto, a moça garante que já consegue ter tranquilidade para abordar o assunto. Relatar sua história, inclusive, é quase uma terapia para ela. “Hoje eu me sinto confortável em contar, mas por anos ninguém soube.”
Embora acredite ter superado o passado tão sofrido, Catarina ainda carrega as marcas de tudo o que ocorreu.
“Minha criança interior se revolta quando eu lembro disso. A minha dignidade foi tirada. Eu fui tocada e não queria. Meu corpo foi invadido”, desabafa.
Caso você ou alguém que você conhece esteja passando ou tenha passado por algo semelhante, não hesite em denunciar. No exterior, procure a delegacia mais próxima ou o consulado brasileiro. No Brasil, use uma das opções abaixo:
Polícia Militar: Ligue 190 – caso a criança esteja correndo risco imediato
Samu: Ligue 192 – caso seja necessário o socorro urgente
Disque 100: Este número recebe denúncias de violações de direitos humanos, feitas de forma anônima
Conselho tutelar: Os conselheiros vão até a casa denunciada e verificam o que está ocorrendo (todas as cidades contam com conselhos tutelares)
Delegacias especializadas no atendimento de crianças ou de mulheres
Qualquer delegacia de polícia
WhatsApp do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos: (61) 99656- 5008