ATENÇÃO: CASO VOCÊ SEJA SENSÍVEL A TEMAS QUE ENVOLVAM VIOLÊNCIA, ESSA HISTÓRIA CONTÉM GATILHOS
POR: DANIELA TEIXEIRA
“Você não tem vergonha de inventar uma história dessas? Agora você vai aprender a não ser uma vag@%$*#@ mentirosa.”
Foi assim que Cleide (nome fictício) levou a pior surra de sua vida. Na época com 12 anos de idade, a adolescente foi traída por quem mais a deveria proteger: seus pais.
Tudo começou quando, naquele dia mais cedo, sua mãe havia saído com seus irmãos mais novos para a casa de uma tia. Cleide, que era a responsável por limpar a residência em que viviam, não pode acompanhá-los para cumprir as tarefas domésticas.
Enquanto se esforçava para deixar tudo um ‘brinco’ – já que a mãe era muito brava e não a perdoava quando encontrava algo sujo ou fora do lugar -, a garota ouviu a porta de casa se abrir.
Assustada, ela correu para ver quem estava chegando, já que a mãe havia dito que retornaria somente à noite. Ao adentrar a cozinha, deu de cara com o pai, que disse ter saído mais cedo do trabalho porque estava resfriado.
Com o coração acelerado, uma vez que tentava fugir das brincadeiras incômodas que ele vinha fazendo nos últimos tempos, Cleide avisou que o quarto dele já estava limpo e pediu licença para retornar aos seus afazeres.
Minutos depois, já informado de que a esposa e os outros filhos haviam saído, o pai foi atrás da garota e, sem dizer uma palavra sequer, a jogou no chão e lhe deu um murro, a deixando atordoada. Quase que simultaneamente, ele a imobilizou e a despiu.
Desesperada, Cleide gritou, pediu para que o pai parasse, mas sem sucesso. Apenas uma menina que mal tinha chegado à adolescência, ela foi violada de forma brutal pelo monstro que a havia concebido.
“Você me provocou tanto e agora que eu não consegui me segurar você vai se fazer de coitadinha? Enxuga essas lágrimas e termina de limpar a casa”, disparou o criminoso logo após o ato, de acordo com as recordações de Cleide.
E acrescentou: “Se você abrir a boca para contar o que aconteceu aqui eu acabo com você!”.
Emocionalmente e fisicamente machucada, a menina tentou se recompor como pode. Mal sabia ela que muito mais estava por vir naquele mesmo dia.
Pedido de socorro
Assim que a mãe retornou para casa no início da noite, percebeu que a filha tinha uma marca de agressão no rosto e que havia chorado, então questionou o que tinha ocorrido. Àquela hora, o pai já tinha saído para beber com os amigos em um bar próximo. Cleide até que tentou se manter calada, mas a dor, o desespero e a ânsia por proteção, com medo de passar por tudo aquilo de novo, a impulsionaram a revelar o terror que viveu à genitora.
O que a garota não esperava era que a mãe não fosse acreditar em seu relato. Pior ainda: a mulher ficou transtornada e partiu para cima dela.
“Sua sem-vergonha! Como você pode inventar uma coisa dessas? Você deve ter se enfiado na cama de algum macho por aí e agora quer culpar o seu pai!”, gritou a mãe.
Já em cima de Cleide, ela ainda esbravejou: “Você não tem vergonha de inventar uma história dessas? Agora você vai aprender a não ser uma vag@%$*#@ mentirosa”.
Sem cessar com os xingamentos, a genitora, então, desferiu socos, tapas, arranhões e até cuspes em Cleide. Cansada de tanto bater na filha com os próprios punhos, ela ainda pegou a tampa de metal de uma panela antiga para prosseguir com as agressões até a filha desmaiar.
Cleide não se lembra do que ocorreu, mas seu irmão mais novo contou que precisou implorar para que a mãe parasse com os golpes. Quando retornou à consciência, seu corpo todo doía muito, um braço parecia estar em uma posição estranha – e, ao tentar mexer, ela descobriu que ele estava quebrado – e até três de seus dentes haviam caído.
Ao seu lado, a mãe parecia ainda estar furiosa e o pai, que havia retornado da rua, a encarava com desdém e jurava à esposa não saber por que a filha havia inventado uma história tão absurda daquelas para ‘manchar’ seu caráter.
Os dois ainda obrigaram Cleide a ficar a noite toda em casa com dores e com o braço quebrado, enquanto decidiam o que fazer em relação a ela, uma vez que estavam com medo de levá-la ao hospital.
Pela manhã, sem aguentarem mais os gritos ensurdecedores de dor que Cleide dava, os pais, com receio de uma possível denúncia por parte dos vizinhos, optaram por levá-la para ser examinada. Não sem antes ameaçá-la de todas as formas para que ela não contasse o que havia acontecido. Cleide deveria dizer que sofreu um acidente de carro enquanto voltava para casa com um namoradinho.
No hospital, as enfermeiras ficaram horrorizadas com o estado da garota. A mãe, porém, não saía de perto para que a filha não deixasse escapar nada sobre o que tinha se passado em casa.
Um anjo apareceu
No entanto, a sorte decidiu sorrir para a menina. Ou melhor, Deus, como ela mesma ressalta. Percebendo algo estranho na história, uma enfermeira pediu para a mãe de Cleide ir assinar a autorização para a realização de um exame em outro andar. Enquanto isso, levou a jovem para outra sala e a questionou a respeito de seus ferimentos.
A princípio, ainda com muito medo, Cleide manteve a história do acidente. Porém, cansada e aterrorizada com a possibilidade de ter que retornar para casa com os pais, ela abriu o coração. Em meio a soluços, Cleide relatou sua história à enfermeira.
A profissional, por sua vez, acionou as autoridades e não permitiu mais que a mãe se acercasse de Cleide. A adolescente, em seguida, recebeu todos os cuidados necessários e foi submetida a exames específicos, que comprovaram a violação.
Assim que se recuperou, Cleide foi enviada para um abrigo. Logo depois, sua madrinha, que tomou conhecimento da história, conseguiu sua guarda provisória e a levou para outra cidade.
Sobre seus genitores, Cleide hoje prefere não dar detalhes do que lhes aconteceu. Ela só diz que a mãe acabou se livrando da prisão e que o pai foi preso. Contudo, não permaneceu muito tempo atrás das grades.
Atualmente casada, Cleide tem dois filhos e vive fora do Brasil. Ela mantém contato frequente com a madrinha que a acolheu e um de seus irmãos. Embora acredite ter superado o trauma ao qual foi submetida, Cleide admite que é impossível esquecer tudo o que passou.
“Eu consigo falar sobre isso sem chorar, me sinto segura e confiante, mas de vez em quando me pego tendo pesadelos com aquele dia fatídico”, confessou.
Mãe superprotetora, ela também diz que nunca confiou em ninguém para cuidar de seus filhos. “Depois do que aconteceu comigo, eu preferi abrir mão temporariamente da minha vida e carreira para cuidar deles e garantir seu bem-estar.”
Por fim, Cleide ainda manda um recado às mães que preferem apoiar os companheiros em vez de darem ouvidos aos filhos:
“Mães, escutem seus filhos e, principalmente, acreditem neles. Jamais duvidem quando seus filhos fizerem uma acusação tão séria contra alguém, não importa se esse alguém seja um amigo, um vizinho, um avô ou o próprio pai”, alertou.
Caso você ou alguém que você conhece esteja passando ou tenha passado por algo semelhante, não hesite em denunciar. Confira como:
Polícia Militar: Ligue 190 – caso a criança esteja correndo risco imediato
Samu: Ligue 192 – caso seja necessário o socorro urgente
Disque 100: Este número recebe denúncias de violações de direitos humanos, feitas de forma anônima
Conselho tutelar: Os conselheiros vão até a casa denunciada e verificam o que está ocorrendo (todas as cidades contam com conselhos tutelares)
Delegacias especializadas no atendimento de crianças ou de mulheres
Qualquer delegacia de polícia
WhatsApp do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos: (61) 99656- 5008
Tantas crianças e mulheres passam por isso. Mto triste